A obra abaixo exposta faz parte de trabalho no Curso de Sociologia na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) realizado por esta autora em 2013. Toda ou quçalquer reprodução deste conteúdo ou textos deste endereço eletrônico deverá citar a fonte com os dados da autora sob pena de plágio.
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PLÁGIO É CRIME!
Um
fato que vem surgindo já há algum tempo, são os apelos no marketing do consumo
sobre a felicidade. Inúmeras publicidades e propagandas voltadas à necessidade
de aquisição de algum bem ou a lugares específicos, com a finalidade de ser e
estar feliz. É o caso do supermercado Pão de Açúcar, onde somente pessoas
felizes freqüentam o estabelecimento (“Lugar
de gente feliz”), Coca-Cola (“Abra a felicidade”), Magazine Luiza (“Vem ser Feliz”), entre tantos outros.
O
incentivo ao consumo associado à felicidade estaria tornando aos poucos uma
obrigação em ser feliz? Felicidade esta, que se constrói como fato social á
partir da coação do moderno, onde há uma batalha entre vencedor e vencido, ou
seja, ser feliz ao consumir ou infeliz na sua impossibilidade; onde a
representação da felicidade é considerada como o sujeito consumidor.
As relações entre este sujeito e o mercado que lhe
oferece de maneira desenfreada inúmeros estímulos ao consumo, propõem uma
posição onde este só será feliz se consumir, no entanto, Bruno Latour[1], propõe mudar esta relação e
trazer a real necessidade do indivíduo em ser feliz, que estabelece outra
relação que não com o dinheiro e o consumo.
Ainda,
Eduardo Giannetti[2]
entende que a felicidade está diretamente ligada ao bem-estar subjetivo:
“o
crescimento econômico só interfere e traz felicidade quando o indivíduo é muito
deficiente das necessidades básicas, pois quando este já possui estas atendidas
o dinheiro não muda a quantidade e qualidade de felicidade, pois neste estágio
a necessidade do indivíduo passa a ser o reconhecimentos de terceiros, a
preocupação de sua imagem perante os outros”.
Sob
a ótica à obra de Durkheim[3], a sociedade contemporânea
se submete ás regras do mercado para manter a normalidade e a moralidade que
deseja. Além de ser imposta a todos de maneira geral como uma necessidade
subjetiva, mas de cunho totalmente externo ao tratar de consumo, sem deixar de
lado a coersão implícita na obrigação de ser feliz vinculada à aquisição de
determinado bem.
Neste
sentido, é possível verificar que a normalidade da sociedade atual vem sendo
ditada pelas regras da indústria do consumo, que há uma síntese social voltada
a um único fim, movimentar a grande máquina da economia.
Contrária
a esta máquina, DALAI-LAMA[4], mostra a necessidade de uma responsabilidade coletiva para enfrentar os
desafios:
“Creio que, para
enfrentar o desafio do próximo século, todos os homens terão que desenvolver
uma noção mais ampla de responsabilidade Universal.
Cada um de nós
precisa aprender a trabalhar não apenas para si próprio, para sua família ou
para sua Nação, mas para benefício de toda a Humanidade.
A responsabilidade
Universal é a verdadeira resposta para a questão da sobrevivência humana.
Grandes movimentos de
cunho humanístico costumam nascer de iniciativas individuais. Portanto, é o
trabalho do indivíduo para o bem-estar comum que realmente faz a diferença”.
No entanto, a estrutura atual não
possui qualquer intenção em mudar os rumos do crescimento econômico, trazendo
uma representação divergente do senso comum, potencializando um processo de
desregulação social.
Ainda, Giannetti [5] coloca alguns desafios
para o século XXI:
“a)
mostrar que a liberdade individual é compatível com a preservação e o
equilíbrio ecológico do planeta a longo prazo, e b) que ela é capaz de
favorecer, melhor do que qualquer esquema paternalista ou dirigista, o aumento
do bem-estar subjetivo do ser humano”
Neste sentido, Eduardo traz a
necessidade urgente de respeito às diferenças existentes entre os seres, e que
para isso é preciso ter maturidade ética,
ou seja, moderação e disciplina no exercício da liberdade, pois há diferentes
formas de ser feliz[6].
Ocorre que esta “Maturidade Ética” na qual cita já é
atuante sobre os indivíduos através da panacéia da Felicidade, ocultando as
reais e verdadeiras necessidades sociais de moderação e disciplina.
Neste mesmo sentido, o Primeiro
Ministro do Butão, em seu discurso na 4ª Conferência Internacional sobre FIB[7], traz esta questão que o
assombra:
“Como
que se pode criar uma sociedade iluminada na qual os cidadãos sabem que a
felicidade individual é fruto da felicidade e ação coletivas -- que a duradoura
felicidade está condicionada pela felicidade dos indivíduos à sua volta -- e
que se esforçar pela felicidade dos outros é o caminho mais seguro para se
desfrutar de experiências gratificantes que trazem a verdadeira e duradoura
felicidade? Como poderemos persuadir as pessoas para que adotem um novo
paradigma ético que rejeite o consumismo? Como poderemos convencê-las de que o
paradigma de crescimento ilimitado num mundo finito não é apenas insustentável
e injusto com as futuras gerações, mas também espreme para fora as nossas
buscas sociais, culturais, estéticas e espirituais? Até mesmo a justificativa
para crescimento econômico visando mitigar a pobreza soa demasiado dúbia, a menos
que radicalmente melhoremos a distribuição de renda. Vergonhosamente pouco da
mitigação da pobreza vem da enorme riqueza gerada na economia global agregada.
O mesmo se aplica ao argumento de que precisamos crescer de modo que haja
dinheiro para consertar os problemas ambientais. Acreditar nisso é acreditar em
matar o paciente para curar a doença. Evidências de que precisamos crescer
economicamente para sermos coletivamente mais felizes são até mais escassas nos
países ricos. Bem, então como se pode advogar um novo conceito de
produtividade, riqueza, prosperidade e plenitude, que têm pouco a ver com
possessões materiais e com a marginalização dos mais frágeis, e mais a ver com
o bem-estar social, psicológico e emocional?
Diante do acima, pode se afirmar que a felicidade
também se tornou mercadoria? Que já temos uma financeirização da felicidade?
Poderá ser ocultada pelo conceito “felicidade”, um processo de circulação de
mercadorias que a ela se sobrepõe e toda uma indústria de consumo?
E como ficará o indivíduo, todos terão acesso a esta felicidade? O Poder
ou o dinheiro irão interferir nesta relação? Será a norma vigente, a imposição
a uma normalidade aparente?
A este ser complexo e irredutível aos indivíduos que a constituem que é
a sociedade, fica a necessidade de uma representação coletiva efetiva e
transparente, que vise o bem comum e a felicidade real e não sua ilusão.
Assim, Geshe
Kelsang Gyatso[8]:
“Todos os seres vivos tem o mesmo desejo
básico de ser feliz e não sofrer, mas poucos entendem quais são as verdadeiras
causas da Felicidade e do Sofrimento.
Costumamos
acreditar que condições exteriores como: amigos, fortuna, sucesso, prestígio...
são causas reais de felicidade e, assim, dedicamos quase todo nosso tempo e
energia para obtê-los. Contudo sabemos por experiência pessoal que eles
frequentemente nos causam sofrimento, e por isso ficamos ansiosos, estressados,
com raiva e com medo da perda devido ao nosso apego.
Nos
últimos tempos, nosso conhecimento e controle do mundo exterior aumentaram
consideravelmente, contudo não houve um aumento correspondente da felicidade
humana. Por que isso acontece?
Felicidade
e Sofrimento são estados mentais e, por isso, suas principais causas não podem
ser encontradas fora da mente.
A
verdadeira fonte de Felicidade é a Paz Interior. Se nossa mente estiver em Paz,
seremos felizes o tempo todo, independente das condições exteriores; mas se de
alguma maneira ela estiver perturbada ou agitada, não nos sentiremos felizes
por melhores que sejam essas condições.
Vemos
assim que, se quisermos felicidade verdadeira e duradoura, temos que gerar e
manter uma experiência especial de paz interior. A única maneira de fazê-la é
treinando nossa mente com a Prática Espiritual, ou seja, reduzindo e eliminando
gradualmente os estados mentais negativos e perturbados e substituindo-os por
outros positivos e serenos.
Quando
as coisas vão mal na nossa vida e encontramos situações difíceis, tendemos a
considerar que a situação em si é o problema, mas, na realidade, todos os
problemas que experienciamos vêm da mente. Se reagíssemos às dificuldades com
uma mente positiva e serena, elas não seriam um problema para nós poderiam até
ser vistas como desafios ou oportunidades de crescimento e desenvolvimento. Os problemas surgem apenas
quando reagimos às situações com um estado mental negativo.
Portanto,
se quisermos transformar nossa vida, teremos que aprender a transformar e curar
nossa mente. Sofrimentos, dificuldades, ansiedade, infelicidade são sensações
desagradáveis e, portanto, existem dentro da mente. Controlando e purificando
nossa mente, podemos fazê-los cessar de uma vez por todas e encontrar a
verdadeira e duradoura
Felicidade!
A
Felicidade como Fato Social que se impõe sobre os indivíduos de uma sociedade,
com finalidade de harmonia social e na tentativa de normalidade, apenas tende a
trabalhar em prol da desregulação social. E até que ponto o desenvolvimento
gradual desta sociedade poderá ocorrer?
* DURKHEIM, Émile. 1995. As regras do método
sociológico. (Trad. Paulo Neves) São Paulo: Martins Fontes [1894]
* GIANNETTI.Eduardo; O que é Felicidade? Editora Companhia
das Letras. 2002
*
GYATSO.Geshe Kelsang; Transforme sua vida
* LAMA, Dalai. O Caminho da Tranquilidade. Ed.
Sextante. 2008
* LATOUR, Bruno. 1994. Jamais Fomos Modernos. Ensaios de Antropologia Simétrica (Trad. Carlos Irineu da Costa) Rio de Janeiro: Editora 34.
[1] Latour, Bruno.
1994. Jamais Fomos Modernos. Ensaios
de Antropologia Simétrica (Trad. Carlos Irineu da Costa) Rio de Janeiro:
Editora 34.
[2] Giannetti, Eduardo. Felicidade. Companhia da Letras. 2006. Página 92
[3] Durkhem, Émile. 1995. As
regras do método sociológico. (Trad. Paulo Neves) São Paulo:
Martins Fontes [1894]
[4] LAMA, Dalai. O Caminho da
Tranquilidade. Ed. Sextante. 2008.
[5] Giannetti, Eduardo. Felicidade. Companhia da Letras. 2006. Página 94
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